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Campus Aberto Mariana - Ocupação de um espaço que deve ser público

Texto: Amanda Alves e Giulia Pereira/ Edição: Flávio Andrade

Em um sábado sob nuvens densas, nem a ameaça da chuva espantou quem estava disposto a passear pelo Campus do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS). O dia 16 de março ficou marcado como o primeiro Campus Aberto em Mariana. Várias atividades foram oferecidas e o que se viu foi o entusiasmo, a alegria, a arte, o esporte e a ciência, tudo junto e misturado. Oficinas, rodas de conversas, atividades físicas, exposições e apresentações artísticas entretiveram o público das 11h da manhã até o anoitecer, após as 18h. Além de lazer, cultura e integração, o Campus Aberto Mariana também voltou-se à saúde e à representatividade feminina, no mês da mulher.

Com um público composto por crianças, estudantes e moradores da cidade, muitos ressaltaram a importância da ocupação dos espaços da universidade, como relata a professora do ensino fundamental Aline Costa. Segundo ela, “entender a importância desse espaço e todo o saber que ele proporciona é fundamental para que todos conheçam e se encorajem de estar aqui”. Já as alunas do ensino fundamental Luiza Gama (11 anos) e Joana Mattos (12 anos) revelaram-se animadas com as atividades, principalmente a feira de artesanato e a adoção de animais. “Gosto muito de estar aqui no ICHS, não venho muitas vezes, mas espero conseguir entrar no curso de História, é um sonho que tenho desde mais nova", diz Joana. Luiza, enquanto observa atentamente as barracas do Circula Agricultura, pergunta curiosamente a origem dos produtos aos produtores e revela de forma animada que gostaria de cursar "Gastronomia na UFOP” (sic).

Organizado pelo Centro de Extensão e Cultura de Mariana (CEMAR), o Campus Aberto foi o primeiro de muitos que virão acontecer, como afirma seu organizador, o servidor público Thiago Caldeira, que considera "o espaço da Universidade ainda pouquíssimo explorado por quem de fato o financia: o povo brasileiro".

Veja do que ocorreu no Campus Aberto Mariana:

OFICINAS DE AGROECOLOGIA — Uma das novidades foram as oficinas de agroecologia, oferecidas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG). Foram discutidos com os participantes conhecimentos técnicos, científicos e tradicionais das práticas agroecológicas divididas em cinco oficinas: Agrobiodiversidade para o manejo de pragas; Plantas medicinais; Homeopatia; Cultivo e uso de plantas alimentícias não convencionais (PANCs); e Biodiversidade e identificação botânica de plantas medicinais e PANCs.

FEIRA DE ADOÇÃO DE ANIMAIS IDDA - Não faltou o carinho dos participantes: foram adotados 9 animais (cães e gatos) no evento. O Instituto de Defesa dos Direitos dos Animais (IDDA) surgiu com o objetivo de buscar novos donos para os animais, e principalmente, orientar a população quanto ao bem estar dos bichinhos. Os animais disponíveis para adoção são vacinados, vermifugados e, caso não seja castrado, a ONG disponibiliza a intervenção a baixo custo. “Adotar um vira-lata é uma forma de amor, nosso trabalho é resgatar, cuidar e doar, esperamos achar não só pessoas, mas um lar permanente para os animais", reforça Vitória Rodrigues, voluntária do IDDA.

CIRCULA AGRICULTURA - Com a mesa repletas de frutas, legumes e bolos o projeto de Extensão "Circula Agricultura" também alimentou não só os olhos mas as cestas dos participantes. Na ocasião, quem estava comercializando os produtos eram os produtores familiares do assentamento de Cafundão e Goiabeiras, oferecendo alimentos cultivados sem agrotóxicos e com um preço inferior ao do mercado. A iniciativa incentiva a compra de produtos da região e o fortalecimento da economia local. Você pode adquirir os produtos todas as quartas, das 9h às 13h, em frente ao prédio Padre Avelar, no ICSA.

ARTESANATO - A exposição de produtos artesanais ficou por conta do "Cantinho do artesanato". Cerca de 16 artesãos expuseram artigos feitos à mão, com muito esmero e bom gosto. “Existe todo um cuidado ao fazer artesanato. Nós artesãos colocamos afeto, é mais do que um produto, tem um significado pessoal que cada objeto aqui representa, seja pelas cores, linhas e traços”, afirma Milena Justo, da banca Mandalas de Vinil. Essa presença do artesão é primordial para que o público reflita no contexto da representatividade através dos produtos. Gabriela Baroni, que confecciona há 2 anos para o ateliê Casa Verde, conta que ganhou inspiração para fazer os cadernos personalizados após uma feira na sua cidade natal, Juiz de Fora. “Tentamos sempre trazer coisas que represente públicos e nichos, não só meu, mas sempre pensando no outro”, declara. Já Dalila de Castro, bolsista do projeto extensionista Floresça Mariana: Uma flor em cada janela, um livro em cada mão, o evento foi uma grande oportunidade para dar visibilidade às artesãs. “O Campus Aberto foi o primeiro evento em que expusemos os primeiros bordados do projeto, os quais tiveram grande apreciação. As bordadeiras da comunidade sentiram-se reconhecidas e realizadas com a acolhida e elogios diversos que receberam”, agradece a aluna.

CARRO BIBLIOTECA - Incentivando a leitura de crianças e jovens, o projeto de extensão surgiu em 2006 com o objetivo de levar uma biblioteca itinerante aos bairros periféricos e distritos para, assim, contribuir com a inserção social e cultural da população. Lunara, estudante de Artes Cênicas e colaboradora do Projeto, conta como é a relação das crianças com a atividade. “Elas são um público cativo, já se apropriaram desse espaço que é delas. Aí trabalhamos atividades lúdicas, para também sermos dinâmicos e atrair a atenção”, conta a bolsista.

ÂMBAR: DESAFIOS E AÇÕES EM SAÚDE DA MULHER – No Campus Aberto, o Programa de extensão disponibilizou à comunidade atividades lúdicas sobre a prevenção do câncer de colo do útero. Desde 2012, o projeto de extensão "Monitoramento da Qualidade do Exame de Papanicolau" é o único responsável por ações de prevenção, coleta e avaliação de material das pacientes de Unidades Básicas de Saúde do SUS em Ouro Preto. Um microscópio ficou disponível ao público para a visualização de células coletadas de um exame de papanicolau, que faz parte dos procedimentos técnicos de exames.

COLETIVO COLARES: MULHERIDADES – A exposição do Coletivo Colares (LGBTQIA+) reuniu projetos artísticos de alunos da UFOP produzidos ou protagonizados por mulheres. Foram exibidos ensaios fotográficos, documentários e poesias. Como explicou Gabriel Lage, responsável pela comunicação do Coletivo, o objetivo foi buscar a diversidade dentro da temática da mulher. Nomeado em homenagem ao professor André Felipe Colares (assassinado por homofobia), o coletivo atua desde dezembro de 2018 nos três campi da UFOP, promovendo ações coletivas de conscientização para as comunidades tanto universitária e quanto externa à UFOP. Uma de suas ações foi o mapeamento das repúblicas (federais e particulares) que respeitam a diversidade sexual — uma forma de acolhimento aos estudantes da UFOP, sobretudo os calouros. Foram distribuídos impressos com informações sobre o sistema de auxílios aos estudantes e repúblicas recomendadas que respeitam a liberdade.

ZINE: CORTAR, DOBRAR E COLAR — Crianças, jovens e adultos aprenderam a confeccionar a "zine de dobra", na oficina mediada pelo estudante de Jornalismo Bruno Miné. O intuito das zines é ser de baixo custo e de fácil reprodução. Portanto, a partir de uma única folha de papel, a zine de dobra torna-se uma publicação de oito páginas. No Campus Aberto, a proposta do artista foi estimular a criatividade por meio do recorte e colagem de revistas e fotografias. Normalmente, em grandes centros urbanos, artistas independentes divulgam seus trabalhos por meio das zines, que podem enquadrar qualquer tipo de conteúdo, como poesias, ilustrações e fotografias.

BIBLIOTERAPIA NA UFOP- TRATANDO O CORPO PELA ALMA – O projeto de extensão Biblioterapia tem como objetivo melhorar a qualidade de vida e a saúde mental da comunidade por meio da literatura. A biblioterapeuta Maristela Mesquita, coordenadora da ação, acredita que "quando lemos, nos transportamos para um outro mundo, então os estresses do dia-a-dia parecem menores". A ação também promoveu uma roda de conversa com a escritora e ex-aluna do curso de Letras da UFOP Andréia Donadon. Ela ressaltou ainda que "a leitura, quando se tem liberdade, se torna mais prazerosa", tanto no processo de absorção de conhecimento quanto na produção de textos. A ação também contou com apresentação de escritos dramatizada pelo ator, cantor e compositor Alcides das Dores Ramos e com a participação especial do músico Thiago Felipe.

ATIVIDADES FÍSICAS - Ninguém ficou parado no Campus Aberto Mariana! A academia Pump ofereceu uma aula de Cross Fit Experimental explorando a quadra do instituto com muita disposição. Sobre os benefícios das atividades físicas, o instrutor Samuel Gamarano explica que o objetivo da ação “foi proporcionar aos participantes a oportunidade de conhecer a modalidade e de interagir em equipe”. Logo em seguida, o espaço foi ocupado por uma partida disputada sob grande expectativa do público presente, entre o time feminino STYLE e o um time masculino convocado pela Atlética Primaz UFOP.

A dança misturada com arte marcial com base na filosofia chinesa foi trazida magistralmente pela Associação HamTai, que realizou 30 minutos de Prática de Tai Chi Chuan, conduzida pelo mestre Shifu Ricardo Silva. Contando com a participação direta de 10 pessoas na aula, a ação cativou a observação atenta e silenciosa do público presente. Além disso, comemora como resultado da experiência a procura de algumas pessoas após o evento pela matrícula na Associação.

Alunas de Teatro das Artes Cênicas da UFOP apresentaram duas esquetes teatrais como parte do trabalho de finalização de disciplinas da graduação. As peças Princesas Feministas e Respeita as Mina expressaram de forma lúdica a condição de opressão sofrida pelas mulheres no mundo misógino e machista da atualidade, falando sobre opção de gênero, sexualidade e trabalho.

A Cia de Dança Entre no Ritmo abrilhantou a programação trazendo coreografias marcadas pela mistura de ritmos como o DanceHall, o Waacking, o Hip Hop e o House. Giovanne Silva, dançarino, diz que o momento foi único e singular para o grupo. “Ver como a galera recebe bem o trabalho da gente nos deixa alegre, muitas pessoas que estiveram lá também fazem parte do meio artístico. Estar lá representa muita coisa que queremos transmitir, a resistência, a cor, a opção sexual, o feminismo, que de fato tem que ser representado”, afirmou.

Já Gabriel Cafuso, membro da Capoeira Oxalufã, relata que “foram estimulados nesse encontro o entendimento da capoeira angola para a comunidade, transmitindo uma perspectiva de capoeira mais expressiva no jogo e com uma preocupação com a sonoridade".

Fechando a tarde, o grupo musical Bença Valentim benzeu o evento. Com a participação de 15 músicos entre adultos e crianças, promoveu um cortejo pelo corredor do Instituto fazendo o público dançar aos ritmos percussivos da cultura afro brasileira e canções da música popular.

O evento Campus Aberto foi realizado pelo Centro de Extensão e Cultura de Mariana (CEMAR), com apoio cultural de: EPAMIG, Drogavida Mariana, Papelaria Aquarela, Pousada Carumbé, Sacolão Center, Sacolão ABC, Padaria Pão Real, Rádio Hits Fm (104,9), vereador Cristiano Vilas Boas e Prefeitura Municipal de Mariana.